As boas surpresas com o Chile começaram antes mesmo de meu embarque. Pesquisando sobre meu país hospedeiro fiz um ranking totalmente pessoal sobre as cidades que eu gostaria de ficar e no meu top 1 estava Valparaíso A sua arquitetura antiga misturada com os grafites tinha simplesmente me encantado. Por um toque de sorte, dentre as dezenas de cidades que eu poderia ficar para viver minha experiência, fui selecionado para Valparaíso.

Chegando o grande dia, foi um lindo e saudável chororô de despedida, mas foi chegando em terras chilenas que tudo começou de verdade. Ao aterrissar no aeroporto de Santiago, não nego que bateu uma insegurança, porém garanto que foi só o susto inicial. Voluntários do AFS Chile foram me buscar para um final de semana com quase 100 pessoas de umas 30 nacionalidades num hotel na capital chilena. Desde ali, pude observar como tudo seria incrível.

 

Após esse treinamento, chegou a hora de conhecer minha família anfitriã. Eles me recepcionaram a la chilena com muitas empanadas e condimentos salgados e muito fortes para meu paladar. Por causa desse estranhamento, fiz uma careta que permitiu gargalhadas até o último dia de intercâmbio.

Sobre essa família, ela é composta por 3 filhos, pai e mãe. Foram as pessoas que mais tive contato no Chile, porém por vários motivos, não desenvolvemos uma relação muito próxima, mas os agradeço pelo resto da vida por ter me aberto as portas para minha chegada. Podemos compartilhar juntos muitos momentos durante os quase 8 meses que passamos de convivência e muitos deles foram bem agradáveis. Nutro por eles um respeito gigante pelo que me puderam proporcionar. Nos dois últimos meses de intercâmbio, tive uma nova família composta por duas filhas e um casal de pais que mesmo em um tempo bem menor de convivência tivemos uma relação mais aberta.

Duas semanas depois de minha chegada, fui à escola. Por viver num povoado de 30mil habitantes, eu já havia notado que eu era o novo no pedaço e chamava muita atenção, é só tomar como base que antes de minha chegada TODAS as pessoas de minha sala de aula já me haviam adicionado no Facebook. No primeiro dia de aula, minha turma me preparou uma inesquecível surpresa de despedida. Sem falar muito espanhol ainda e com um tanto de vergonha tentei agradecer todo aquele afeto.

Ainda falando de escola, ela foi para mim o melhor de minha experiência. Foi lá que tive os momentos mais importantes e pude conhecer as pessoas que mais me marcaram. Não me arrependo de nenhum dia que fui à aula porque minha turma me acolheu de uma forma tão verdadeira e singular que era especial demais para deixar de ser sentido o máximo que podia. Todas as atividades que tive as oportunidade de desenvolver e vivenciar no meu colégio são inúmeras e guardadas com muito amor e carinho em minha memória.

Por mencionar o carinho, foi um sentimento que pude nutrir pelo AFS enquanto tive no Chile. Uma das pessoas que mais me aproximei foi Mariana Holzapfel, minha voluntária de contato, ela era basicamente uma pessoa que deveria cuidar de mim em qualquer problema que me ocorresse. Porém, podemos construir juntos uma amizade que transbordou essa simples relação de cuidado. Era muito comum para mim ir visitá-la e cozinharmos juntos algum prato de última hora temperado com muitas risadas e conversa jogada fora.

Não posso deixar de comentar que as viagens que fiz pelo território chileno foram espetaculares! Fui desde o deserto mais seco do mundo até a Cordilheira dos Andes me mergulhando em sua neve branca e eterna. Porém, a viagem mais marcante que fiz tinha um cunho social. Por ver noticiários sobre a pobreza que muitos chilenos enfrentavam, saí procurando como poderia ajudar a sociedade do país que me acolhia tão bem, daí conheci o Techo e fui para seu acampamento por quase duas semanas. O Techo desenvolve no Chile atividades que envolvem a sociedade civil para o crescimento de um país mais justo e lá participei na construção de uma rampa num morro de difícil acesso e posso ver como aquele ato foi enriquecedor.

A volta não foi tão dolorosa quanto imaginava. Consegui enfrentá-la como algo natural do processo de intercâmbio. Fui me despedindo de cada pessoa que tinha apreço, geralmente, de forma individual, creio que isso ajudou a aceitar a partida porque dei a cada pessoa o tempo necessário para dizer tudo que necessitava. Minhas últimas semanas foram bem ocupadas, tive duas festas de despedida entre meus amigos, outro com minha família, fui quatro vezes a Santiago, visitei um dos maiores parques de diversões da América Latina e, por fim, peguei um avião que além de malas lotadas levava uma pessoa diferente daquela que tinha embarcado rumo ao Chile um ano antes, ali voltava, um novo eu.

Bem, àqueles que desejam encarar uma experiência AFS, lhes digo uma coisa: vão com tudo! Será algo novo, muitas vezes difícil, mas inesquecível. Viver num país diferente ao seu, imerso numa cultura distinta é algo tão enriquecedor que me faz acreditar cada dia mais no ideal do AFS – na construção de um mundo mais pacífico por meio do voluntariado e do intercâmbio de jovens.

Pedro Torres Firmo, AFSer no Chile