“Quando montei o roteiro das tão esperadas férias, não imaginava que o destino que mais gostaria de visitar era justamente o único que já conhecia. Afinal, não dizem que o melhor da viagem é a volta pra casa? Sem dúvidas, desta vez foi! Retornar à Islândia depois de oito anos foi a mais incrível experiência que eu poderia passar. Só não foi melhor que o próprio intercâmbio, mas o turbilhão de emoções chega bem perto.
Sempre invejei os que retornaram em pouco tempo, no verão seguinte ou assim que concluíram a escola. Eu tive que esperar um pouco mais: acabar o ensino médio, me formar na faculdade, conseguir um emprego, ou seja, duas Copas do Mundo. Mas confesso que esperaria tudo outra vez!
Reencontrar a família e os amigos foi a melhor parte, pois tive certeza de que eles fizeram o ano de intercâmbio valer a pena. Mesmo todo esse tempo tendo mantido o vínculo com a maioria deles pela internet, nada se compara a poder abraçar, dividir o pacote de biscoito favorito, reclamar do tempo que muda a cada 15 minutos, correr da chuva que insiste em cair no verão e sair junto sem destino, tudo como antigamente.
Voltar ao país que me escolheu (eu fui bolsista e a Islândia nunca passaria pela minha cabeça se não fosse a oportunidade dada pelo AFS) fez das minhas férias muito mais do que turismo. Fazer parte da rotina novamente, entender e redescobrir a cultura me fez sentir com a identidade renovada. É como se tudo que estivesse encoberto por uma fina camada de poeira em instantes voltasse a brilhar. O mesmo aconteceu com o idioma que parecia morto e sepultado e ressuscitou glorioso ao terceiro dia.
Não à toa, o período da viagem foi escolhido a dedo para que eu pudesse desfrutar o melhor da ilha: os dias sem fim, o clima agradável, as revoadas de pássaros, canteiros floridos e montanhas com perfume de lavanda.
Quase posso dizer que as duas semanas que passei na Terra do Gelo me fizeram voltar no tempo. Digo quase porque ao mesmo tempo em que tudo era tão igual, era tão diferente. As irmãs que eram crianças se tornaram adolescentes e estão maiores do que eu; a família cresceu e se dividiu; apesar da cidadezinha de 2600 habitantes ter ganhado algumas novas ruas, dois restaurantes e uma faixa de pedestres, me passou uma imagem de decadente; a escola continuava lá na metade do caminho entre os dois extremos, mas não era a mesma sem os outros intercambistas. Dá pra entender? Acho que só vivenciando e voltando para contar”.
Verena Paranhos é jornalista e foi bolsista do AFS Intercultura Brasil na Islândia em 2005/2006.