Por Maraísa Alves, Professora Doutora do IFRN.

Em 2019, recebi a chamada aberta do Programa Educadores com Causa em um comunicado da minha escola, que enfatizava: “deixe sua marca no mundo”. Lembro que fiquei muito tocada com o significado dessa frase e comecei a refletir sobre o que eu, professora, gostaria de deixar como “marca” no mundo.

Naquela época, eu não conhecia o AFS, não sabia ao certo como eu me encaixaria nessa organização, nesse projeto. À medida que fui lendo o edital, fui me identificando com as ações que desenvolvia na escola e, pouco a pouco, fui construindo um projeto, uma proposta que se alinhava aos ideais do AFS e que tinha muita relação com o que eu fazia na sala de aula.

Apresento-me, para que possa fazer sentido a construção dessa narrativa. Sou Maraísa Alves, professora de espanhol, desde o ano de 2010, quando comecei a atuar na rede básica de ensino, no estado do Rio Grande do Norte e, em 2015, ingressei como docente no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), instituição em que completo 10 anos no próximo dia 16 de março.

Um projeto desafiador. Uma experiência transformadora.

As minhas aulas de espanhol como língua estrangeira sempre foram pensadas com atividades que pudessem transpor o espaço da sala de aula, com atividades de humanização da escola, de propagação da língua espanhola, nos diversos espaços. Então, quando vi o edital do Educadores com Causa, pensei “por que não submeter um projeto intercultural que possibilitasse uma aproximação entre estudantes do Brasil e da Argentina? Por que não deixar minha marca no mundo?”

Diante do desafio, submeti uma proposta que buscava falar de aspectos culturais brasileiros, aplicando o meio ambiente como tema transversal e desenvolvendo gêneros textuais do espanhol, com os estudantes argentinos. Tive a honra de ter meu projeto selecionado, entre tantos docentes, inclusive que admiro profundamente… Aceitei o desafio, planejei as atividades e embarquei para uma das mais bonitas experiências que eu poderia ter: passar duas semanas em uma escola hospedeira argentina, compartilhando informações sobre cultura brasileira e aprendendo sobre aquela cultura.

Preciso dizer o quanto essa experiência foi importante para mim, o quanto me transformou como pessoa, como ser humano. A interculturalidade vivida na Argentina me fez observar o mundo sob uma perspectiva diferente. Me fez ter um outro olhar sobre o que diverge do meu pensamento, me fez tentar sempre suspender o julgamento e escutar mais para poder entender a ótica do outro.

O Projeto Educadores com Causa me fez pensar sobre o que eu posso fazer de diferente no mundo e como eu posso contribuir para que esse mundo seja um lugar melhor, de mais harmonia e paz com as divergências e sobre como eu posso contribuir para que mais estudantes tenham a oportunidade de ter uma vivência intercultural.

Doutorado, intercâmbio, voluntariado e abertura de novos caminhos.

Então, em 2020, me tornei voluntária do AFS Brasil, no comitê Natal-RN, e comecei a atuar na equipe das escolas, colaborando com a criação de novas parcerias para o comitê. Em 2022, resolvi fazer parte da equipe de treinadores do Brasil, quando me candidatei e fui selecionada para compor o grupo e, desde então, atuo em diferentes treinamentos no país, facilitando temas como gestão de conflitos, liderança e compreensão de diferenças.

É importante ressaltar que, na época do intercâmbio, eu estava de licença para concluir o doutorado. Quando retornei ao IFRN, em 2022, fui convidada pelo Diretor Renato Dantas para atuar na Assessoria de Relações Internacionais do Campus São Paulo do Potengi-RN. Esse convite fez muito sentido para mim. Nossa! O quanto eu me encontrei nessa função de apoio à gestão! O quanto eu entendi que, dessa forma e neste lugar, eu poderia ajudar jovens a trilhar seus caminhos para realizar um intercâmbio, auxiliando-os a se tornarem cidadãos globais ativos.

Em 2023 e 2024, desenvolvi um projeto de Internacionalização que pudesse incentivar jovens da Região do Potengi a entender que o sonho de um intercâmbio é possível e quais caminhos eles precisam percorrer para alcançar esse objetivo.

O trabalho desenvolvido localmente foi visto pela Diretoria Sistêmica de Internacionalização e, desde setembro de 2024, faço parte dessa equipe, contribuindo com as ações globais de Internacionalização do IFRN, que compreendem desde o envio de estudantes para mobilidade e intercâmbio discente ao recebimento de estrangeiros em ações desenvolvidas no IFRN.

Também em 2024, o campus onde eu atuava foi contemplado em 3o lugar, na categoria Colégio de Ensino Médio, no Concurso do Colégio do Ano. Uma ação desenvolvida pela Embaixada da Espanha, em parceria com o Colégio Miguel de Cervantes, de São Paulo.

Penso que todas as construções realizadas ao longo de minha carreira docente têm muito sentido com a minha atuação dentro do AFS e diria mais, na minha vida, como um todo. Contribuir de alguma forma, por mínima que seja, motivando os jovens para que possam observar outros olhares, outras formas de ver o mundo. Para que possam sair de dentro das suas caixinhas e observar o imenso mundo que existe, compreendendo o quanto somos parte desse todo e o quanto de semelhanças podemos perceber quando adentramos a cultura do outro. E assim, é possível construir a percepção do quanto podemos aprender com as diferenças e o quanto podemos ser pessoas melhores e fazermos desse mundo um lugar melhor para se viver.