As transformações do intercâmbio em uma vida
Minha vida pode ser dividida em três partes: antes, durante e após o meu intercâmbio na República Dominicana. A soma dessas três etapas se complementam e são uma totalidade do que sou hoje.
Falar do meu intercâmbio é algo mais complexo do que se pode imaginar, por todas as mudanças, períodos de crise, de conhecimento do meu novo eu, dos ganhos e perdas, da assimilação de uma nova vida, nova realidade, de contextos. O conhecer um mundo que, até então, era desconhecido.
Costumo brincar que sair de um “ovo” de 30 mil habitantes, uma pequena cidade do sul do Brasil, chamada Frederico Westphalen, para ir morar em uma cidade com 3 milhões de pessoas, na capital de em um país totalmente desconhecido, por mais que seja somente um ano – o que é muito tempo – o anormal seria não sentir um forte choque cultural, e sofrer, não um pouquinho, mas o suficiente para perceber que a vida não se limita a uma “casca de ovo”. O crescimento que as vivencias te trazem é imensurável.
Antes de embarcar, sonhava que em esse ano fosse aprender um novo idioma com facilidade, que fosse ser um período de autoconhecimento, para tornar-me mais madura, independente, com menos medo da vida, conhecer novas culturas, fazer novas amizades, toda uma contextualização, coisas as quais levaram-me a buscar realizar esse sonho por mais de dois anos seguidores realizando seleções de bolsas de estudos da AFS Intercultura Brasil, até conseguir.
Na realidade, tudo foi muito diferente. Estar longe da minha família, da minha casa, nunca se fez tão difícil na minha vida, entender um idioma e aprendê-lo nunca foi tão complicado, fazer amizades e me comunicar (para mim que me achava um ser tão comunicativo) foi um choque tão grande que me fez travar totalmente, mas tudo isso, me fez crescer e foi benéfico. Diferenças essas, que senti somente quando retornei para meu país, em junho deste ano. Então, tu percebe o quanto tudo foi importante e essencial, a benção de ganhar uma nova família, no meu caso tive a graça de Deus – não precisei trocar de hostfamily e ainda ganhei mais outra família –, as duas famílias as quais devo tudo a elas e foram meu porto-seguro desde o momento que entraram na minha vida até hoje.
Durante esse tempo na República Dominicana onde morei em Santo Domingo, mantinha uma coluna mensal em um jornal de grande circulação do Sul do país – ao qual tive o orgulho e a oportunidade de trabalhar por mais de dois anos antes de viajar para o intercâmbio –, onde pude contar em 10 reportagens sobre a minha vida no Caribe (foto). Também mantive um blog e uma página no Facebook, que alimentava com texto, fotos e relatos da experiência (Na estrada). Também na República tive a honra de ser convidada para ir mais de quatro vezes no programa de rádio mais popular do país para falar do Brasil e de como estava sendo os meus dias na belíssima ilha, o que me levou a fazer uma participação ao vivo no programa de televisão com mais audiência do sábado à tarde também para relatar sobre a “visão de uma brasileira no Caribe” e no Dia das Mães, receber na tua casa a reportagem de um jornal para estampar duas páginas sobre como é a benção de ganhar uma nova família. Coisas que realmente, somente o intercambio poderiam me oportunizar.
Aproveitei a temporada fora do país para realizar dois cursos voltados para minha carreira, na melhor escola da América Central, de Escritura Criativa e Fotografia, e se não bastasse tudo isso, no dia do meu aniversário, em abril, ganhei da minha mãe Dominicana uma festa surpresa, com direito a DJ e balada em casa, uma semana em uma das praias mais lindas do Caribe, e ainda uma viagem com tudo pago para ir durante seis dias para o Chile, aqui na América do Sul. Uma das experiências que para sempre guardarei na memória e no coração. Conhecer a neve, dezenas de cidades, mais uma cultura e outra parte do mundo, era algo que realmente foi uma das surpresas mais incríveis que poderiam acontecer.
Ao final da experiência, depois de 10 meses e 18 dias, em um total de 321 dias em terras caribenhas, ainda não havia perdido o sotaque, não fiquei mais morena, não vivi o tradicional “grande amor de intercambio” (somente quem um dia fez ou fará intercambio me entenderá). Não engordei, não aprendi a dançar, muito menos aprendi a gostar de bebida alcoólica. Quiçá seja um dos casos raros.
O que faz do intercâmbio o melhor ano da tua vida, não é estar em outro país. Aprendi que pouco importa o país. O mais importante, são as pessoas que surgem na tua vida. Que fazem de uma soma de vivencias que se você não tivesse se arriscado, jamais iria saber ou conhecer esse novo mundo.
Tive o ano que Deus me oportunizou viver, da maneira que ele preparou para mim. Construí uma história. A minha história. Ganhei não só vivencias. Ganhei uma nova família. Uma nova vida. A minha vida. Continuarei a sonhar grande. Aprendi que somos do tamanho dos nossos sonhos. E não do modo literário, mas sim no sofrimento de cada nova vivencia.
Quando cheguei ao Brasil, mais mudanças no retorno a vida real. Já havia concluído o ensino médio antes de viajar, por isso tenho que aguardar os vestibulares para dar segmento a realização dos meus sonhos. Mas nem por isso minha vida parou.
Como já trabalhava antes de ir para a República, quando retornei as portas profissionais se mantiveram abertas e muitas outras se abriram. Hoje, me realizo trabalhando na maior Universidade da minha cidade, uma das maiores do Sul do país. O meu ano de intercambio, me fez somente reafirmar a profissão que havia escolhido, e ensinou-me caminhos alternativos para chegar a realização do meu sonho.
E uma coisa é mais que fato. Depois que tu coloca o pé na estrada uma vez, nunca mais quer parar. Essa foi somente a minha primeira viagem, e agora mesmo já estou de malas prontas para visitar minha família hospedeira Dominicana que está chegando neste mês de novembro no Rio de Janeiro. Já estou fazendo planos de como em 2015 vou encontra-los, como será em 2016, porque não consigo mais imaginar um ano sem vê-los e tê-los ao meu lado.
Levo no coração o acolhimento da minha mãe, irmãos e amigos dominicanos. E a todos que de uma forma ou outra me ajudaram a realizar esse sonho, agradeço imensamente.
Caroline de Oliveira, AFSer na República Dominicana em 2013